sexta-feira, julho 4, 2025

Economistas veem como ‘falsa polêmica’ o embate em torno do IOF

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Ainda não acabou

A polêmica em torno do decreto do IOF entra em seu segundo mês e traz análises  distintas sobre o foco político e a crise institucional instalada entre o Legislativo e o Executivo. Economistas consultados pela Coluna afirmam que está havendo uma “falsa polêmica” sobre o assunto e o verdadeiro debate sobre a tônica do imposto está sendo deixado de lado.

Funções

O IOF foi criado na década de 1960 e tem duas funções: regulatório e arrecadatório. O governo editou um decreto aumentando para 3,5% a taxação do imposto onde a alíquota era zero de forma a incrementar a arrecadação e conseguir R$ 20 bilhões ainda este ano para cumprir o arcabouço fiscal. O Congresso reagiu mal e assumiu o mantra de “corte de despesas” contra o aumento de impostos.

Lobby

Mas o “buraco” é mais embaixo, analisam economistas. “É uma falsa polêmica e ela não deveria existir. O que criou essa falsa polêmica foram interesses políticos em torno do tema”, afirma o economista aposentado Luiz Afonso Simoens da Silva. Em sua avaliação, o Congresso tomou as “dores” dos empresários e se rendeu a lobistas nesta discussão.

Câmbio

Para economistas, o mais importante nessa discussão é o caráter regulatório, que é primordial para a conta de capitais. “Pais emergente não pode se dar ao luxo de não usar um imposto regulatório para mitigar a volatilidade da taxa de câmbio. Você lembra o que aconteceu no final do ano passado com a taxa de câmbio? Pulou de R$ 5,45 em out/24 para R$ 6,73 em dez/24”, salienta o economista Newton Marques.

Ricos e Pobres

No meio dessa polêmica, o discurso da luta de classes ganhou força no país e mostra que não está apenas nos livros ou nas análises sociológicas nas bancas acadêmicas. Elas existem e estão tendo um novo capítulo neste debate em torno do IOF. O governo argumenta que o objetivo é taxar os super-ricos para equilibrar as contas e aliviar a carga tributária para os pobres. O Congresso sustentou a derrubada do decreto presidencial com o discurso de que quem vai pagar mais impostos são os pobres.

Erro

Mas para o economista da Universidade de Brasília (UnB), José Luís Oreiro, o Congresso Nacional não agiu acerto ao derrubar o decreto do governo. Para ele, os congressistas, principalmente aqueles mais ligados à direita, estão defendendo interesses do sistema financeiro, de quem ganha mais dinheiro no Brasil. “As alternativas que o governo tinha ao aumento do IOF eram todas piores. Então, o Congresso está fazendo um desserviço ao país com esse tipo de comportamento”, diz Oreiro.

Alternativas

Taxar os super-ricos para garantir uma economia mais equilibrada foi uma das promessas de campanha do presidente Lula. Um movimento que já acontece em outras economias mundiais. Para Oreiro, o governo tinha três opções para encontrar o equilíbrio fiscal: ampliar o contingenciamento já anunciado anteriormente, o que levaria a máquina pública ao caos; os deputados e senadores fazerem um sacrifício pela República e abrirem mão de R$ 20 bilhões dos R$ 50 bilhões das emendas parlamentares deste ano, o que não vai acontecer; e aumentar impostos, mas que não seria qualquer imposto. Restou o IOF.

Pra plateia!

Oreiro destaca que no caso do aumento do IOF sobre operações de crédito com menos de 364 dias de prazo-maturidade e para o crédito à pequenas e micro empresas foi negativo, mas que poderia ter sido negociado por uma alíquota mais alta sobre as operações cambiais, debate que o Congresso não quis fazer, dando espaço ao embate político. “O Congresso fez uma leitura da plateia e foi de uma imensa irresponsabilidade”, frisou o economista. Na sua avaliação, o Planalto está correto em judicializar a questão “até porque trata-se de uma atribuição exclusiva da presidência da República.”

Viés

O economista Luiz Afonso Simoens da Silva ressalta que, ao contrário do debate, o mercado financeiro e os congressistas alinhados estão preferindo “demonizar” o que chamam de controle de capitais. Bem aplicado o IOF regulatório, ressalta, contribui para a redução da volatilidade da taxa de câmbio e na implantação de projetos de desenvolvimento de longo prazo. Mas eles não estão preparados para isso, dando lugar a um embate com viés ideológico.

Crise

Presidente nacional do PP, um dos partidos que se opõem ao governo, o senador Ciro Nogueira (PI) declarou ontem (2) que o Congresso não vai recuar de suas atribuições. O parlamentar aproveitou para enviar um recado ao presidente Lula: “Não é o Congresso que tem de se adaptar a ele. E não vamos modificar para fazer boa vontade com o presidente da República”, afirmou. Nogueira frisou que o Brasil elegeu um Congresso de centro-direita e Lula precisa “se adaptar a essa realidade”. A declaração foi dada durante sua participação no Fórum de Lisboa.

Enquanto isso…

O presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), participou de um jantar patrocinado pelo empresário João Dória, com a presença de outros empresários paulistas e foi chamado de “Herói do Brasil” por Doria. Depois, se deslocou para Portugal, na Europa, para participar do Fórum de Lisboa.

Valéria Costa
Valéria Costa
Jornalista, com 25 anos de profissão. Já atuou em veículos de comunicação em Manaus (AM) e Brasília (DF), na cobertura dos principais assuntos nas diversas editorias do jornalismo, com ênfase em política e opinião.

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