sábado, abril 19, 2025

A linha tênue que separa a democracia da barbárie

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Legitimar o incorreto

Protestar em via pública, realizar manifestações, atos, críticas, discursos, tudo isso faz parte da democracia e é saudável ao contraditório. Mas há uma linha que a oposição quer ultrapassar à força e ganhar no grito: legitimar o vandalismo hostil, a barbárie e quebradeira, a violência em sua mais pura essência, o ódio coletivo que se produziu aos olhos estarrecedores de quem acompanhou os atos antidemocráticos daquele 8 de janeiro de 2023 na sede dos Três Poderes, em Brasília. As manifestações em favor da anistia aos presos, condenados e investigados, lideradas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), querem legalizar o que não pode ser legalizado. É como se fosse normalizar uma desobediência civil.

Escudo popular

O ato deste domingo, 6 de abril, na avenida Paulista (SP), materializa a pressão dos quase 45 mil participantes em favor da anistia com apoio de autoridades públicas que representam entes federativos, partidos políticos e lideranças no Congresso Nacional, contribuindo para uma cobrança pública para que a Câmara dos Deputados paute, para votação em plenário, o projeto de lei que favorece esse perdão coletivo. E são os dados produzidos neste ato, a presença de governadores e os discursos inflamados que a oposição vai usar como combustível para radicalizar a pressão em torno do presidente, Hugo Motta (Republicanos-PB), nesta semana legislativa.

Ato calculado

Sete governadores participaram do ato ao lado de Bolsonaro em cima do trio elétrico na Paulista, dentre os quais quatro são presidenciáveis: Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Júnior (PSD-PR) e Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP); dois devem disputar uma vaga no Senado nas eleições do próximo ano: Wilson Lima (União Brasil-AM) e Mauro Mendes (União Brasil-MT); e um, deve concorrer à reeleição do mandato em seu estado: Jorginho Mello (PL-SC). Chama a atenção que quatro destes representantes do povo são filiados a partidos políticos que integram o governo Lula3: o PSD e o União Brasil, este último tem o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP). Não podemos esquecer do Republicanos, que tem o presidente da Câmara, Hugo Motta, como autoridade máxima.

Pra inglês ver!

Para garantir a repercussão internacional do ato da Paulista e a pressão pela anistia, Jair Bolsonaro até arriscou uma frase em inglês, ao microfone, em cima do trio elétrico: “Pop corn, and ice cream seller sentenced for a coup d’état in Brazil”. Na tradução, ele quis dizer que sorveteiro e pipoqueiro dando golpe de Estado no Brasil, é uma vergonha, ao se referir a dois homens que trabalham com essas funções que foram presos acusados de participarem dos atos de vandalismo no dia 8 de janeiro de 2023.

Defesa

A deputada federal Rosana Valle (PL-SP) divulgou um artigo neste domingo (6), por ocasião do ato na Paulista, defendendo a integridade política e jurídica do ex-presidente Bolsonaro e criticando o que ela chamou de “movimento político orquestrado com o claro objetivo de silenciar uma liderança popular e enfraquecer a oposição, a Direita no Brasil”. A parlamentar afirmou que a ação penal contra o “chefe” no Supremo Tribunal Federal (STF) trata-se de um “erro jurídico” e endureceu as críticas à Corte Suprema e à gestão do presidente Lula da Silva. Ela finaliza seu pensamento afirmando que o país passa por um momento decisivo e que não se pode aceitar que julgamentos sejam feitos por quem já tem um lado. “A Democracia exige equilíbrio, respeito à Constituição e coragem.”

Encurralados

O fato é que o protesto deste domingo, além de defender a anistia aos acusados e investigados do vandalismo no patrimônio público, também teve duas figuras centrais em que a oposição vai direcionar a pressão e a cobrança: Hugo Motta, na Câmara dos Deputados, e o ministro Luiz Fux, do STF. Este último, foi instado pela ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, para que “não jogue seu nome na lama” e não manche a sua trajetória jurídica. Luiz Fux é membro da 1ª Turma do STF, onde as ações penais estão em julgamento, e pediu vista da ação contra a cabeleireira Débora Rodrigues por discordar da pena de 14 anos imposta à acusada de ter pichado com batom a estátua “A Justiça” com a frase “Perdeu, mané!”.

Economia em pauta

O presidente Hugo Motta participa nesta segunda-feira (7) da reunião do Conselho Político e Social, evento promovido pela Associação Comercial de São Paulo. Ao seu lado, participa também o deputado federal Pauderney Avelino (União Brasil-AM), que é parte deste colegiado. No encontro deste ano, o grupo vai discutir projetos viáveis para a economia do país e debater o atual cenário econômico e político, este último, inclusive, será tema de palestra de Hugo Motta. Ao final, políticos e empresários se reunião num jantar na residência do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab.

Discussão social

Outro grupo de parlamentares também está em missão oficial no Uzbequistão, na Ásia, durante esta semana. Liderados pelo decano da Câmara Federal, o deputado Átila Lins (PSD-AM), os parlamentares Cleber Verde (MDB-MA), Laura Carneiro (PSD-RJ), José Rocha (União Brasil-BA), Cláudio Cajado (PP-BA) e o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Antônio Anastasia, fazem parte da delegação brasileira. Eles estão participando da 150ª Assembleia da União Interparlamentar (UIP), em que está sendo debatido ações parlamentares para o desenvolvimento social e a justiça”, que vai debater a erradicação da pobreza, trabalho decente e produtivo e a inclusão social.

Semana tensa

Essa semana no Congresso Nacional promete novos capítulos da oposição em torno da pressão pela votação do PL da Anistia. Há uma grande expectativa, de todos os lados, se Hugo Motta vai ceder e colocar a matéria em pauta, ou se vai endurecer e pagar para ver a reação violenta dos oposicionistas. Uma das medidas é obstruir votações importantes para a casa legislativa. As cenas prometem.

Homenagem

Hoje é o Dia Nacional do Jornalista, uma profissão que tem em sua essência o clamor e o apelo social, uma espécie de ponte entre a massa e o poder. A Coluna parabeniza a todos os jornalistas que fazem de seu labor uma missão diária e aproveita a data para que a categoria e as autoridades reflitam sobre o papel e a importância do jornalista e do jornalismo numa sociedade democrática. Além de pedir apoio para a proteção destes profissionais que são alvos constantes de hostilidades. Parabéns para nós, jornalistas!

Valéria Costa
Valéria Costa
Jornalista, com 25 anos de profissão. Já atuou em veículos de comunicação em Manaus (AM) e Brasília (DF), na cobertura dos principais assuntos nas diversas editorias do jornalismo, com ênfase em política e opinião.

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