sábado, outubro 25, 2025

Não se preocupem, senhores, a história é implacável e a verdade (mesmo não absoluta) sempre vem à tona

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Eram mais de 22h da noite de ontem quando o presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), declarou encerrada a sessão com a aprovação do regime de urgência na tramitação do projeto de anistia (que ainda nem tem um texto consolidado). O placar foi de 311 a 163 e 7 abstenções. A oposição, a maioria bolsonarista, vibrava, gritava, comemorava, pulava, como se fosse um título de Copa do Mundo.

O cenário mostrava um plenário abarrotado de personagens entorpecidos pela “vitória” e um ego inflado, que já está tendo vazão nas redes sociais. Pronto, o storytelling, o feed e os vídeos com palavras de efeito foram renovados com sucesso. Já podem garantir os likes, os comentários e os compartilhamentos. A mensagem vai chegar.

Mas o dia seguinte sempre traz as consequências dos atos e esfrega na cara aquilo que não se consegue esconder. Num intervalo de 24 horas, sem pudor nenhum ou compromisso com o eleitor, que tanto é enaltecido nos discursos parlamentares, os nobres legisladores decidiram tocar o terror e aproveitar a crise política que o país atravessa para entornar mais ainda os conflitos: não só aprovaram a PEC das Prerrogativas – jocosamente chamada de PEC da Blindagem, da Impunidade e da Bandidagem – como conseguiram avançar a urgência de um projeto de anistia, cujo alvo não são os cidadãos comuns que vandalizaram a democracia, mas um ex-presidente da República, que gostou tanto do poder que não se imaginava ficar fora dele.

A quem representam?

O discurso é de pacificação, inclusive Motta que estava resistente a avançar essa pauta, sucumbiu à pressão e também já adotou a mesma expressão: “pacificar o país”. O que seria essa pacificação sob a ótica bolsonarista?

Enquanto isso, pautas e debates que realmente poderiam trazer a justiça social e contribuir para uma verdadeira pacificação estão “esquecidos” e travados porque não rendem embates, likes e nem presença no ambiente digital.

O país está mergulhado na insegurança, no avanço da criminalidade, com um desemprego em alta, com o poder de compra ameaçado e um futuro turvo e acinzentado no horizonte, mas a maioria dos deputados federais – que chegaram ali para representar o povo – estão mais preocupados em garantir a sua própria estabilidade civil, se apropriando da boa vontade popular.

Baixo clero

A Câmara dos Deputados tem se apequenado e isso não é Coluna que fala, mas seus próprios pares, do Senado Federal, que acompanham estarrecidos os últimos movimentos da casa baixa. Indignados, boa parte dos senadores se anteciparam e já adiantaram posições contrárias tanto para a PEC das Prerrogativas quanto para a anistia ampla, geral e irrestrita.

Otto Alencar (PSD-BA), que preside a CCJ do Senado já mandou o recado sobre o que classificou como “PEC da Bandidagem”. Ela não vai passar do jeito que veio da Câmara no Senado.

Damares Alves (Republicanos-DF), bolsonarista roxa, quem diria, fez uma dura crítica ao que chamou de “PEC da Impunidade”. Como o Parlamento vai tomar para si a responsabilidade de proteger criminosos que se escondem num mandato parlamentar e salvar, com o voto secreto, que se livrem de toda sorte de crimes praticados?

Não seria melhor, então, fechar o Legislativo, já que seriam totalmente incoerentes com as leis que aprovam para proteger a população de crimes e afins?!

PEC do PCC?

Renan Calheiros, senador experiente, resquício de um MDB que já fez história na política desse país, foi cirúrgico em suas palavras: “lamentavelmente, a Câmara dos Deputados fez uma opção pelo divórcio litigioso com a sociedade nacional e ontem votou a PEC da Blindagem. Será essa PEC uma PEC do PCC?”.

A Coluna registra na íntegra a sua fala para que sirva de reflexão para essa curva que a Câmara fez na história do Brasil:

“Se nós aprovarmos isso aqui no Congresso Nacional, os criminosos do PCC vão disputar mandatos em todo o Brasil para vir buscar a impunidade no Congresso. Isso não se pode concordar. Eu exerço meu 4º mandato no Senado, mas se for pra exercer um 5º dessa forma, eu confesso que vou desistir.”

Chantagem política

Renan, que tem em sua trajetória a presidência do Senado e alianças com governos anteriores, e um savoir faire na política brasileira critica governo Lula3 de estar cedendo à chantagem e aponta desarticulação de quem deveria ser os representantes na liderança do governo.

Para ele, há uma “submissão” a um processo de “chantagem” em relação à votação da PEC da Blindagem em que o governo não consegue se livrar.

Mas a reação mais firme veio de quem realmente se esperava: do presidente do Senado e do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre (União-AP), que bateu na mesa e já deixou claro para a oposição oportunista: aqui, o buraco é mais embaixo.

Pois bem, vamos ver como essas pautas se desenrolam no Congresso Nacional nos próximos dias: se os nobres edis têm compromisso com a população brasileira ou com uma família e um membro que recebe dinheiro do povo para agir contra o país em outro país, favorecimento o enfraquecimento da soberania nacional?

A sorte do país está lançada!

Ah, mas, o mais importante, as eleições gerais estão logo ali!

Valéria Costa
Valéria Costa
Jornalista, com 25 anos de profissão. Já atuou em veículos de comunicação em Manaus (AM) e Brasília (DF), na cobertura dos principais assuntos nas diversas editorias do jornalismo, com ênfase em política e opinião.

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