sábado, outubro 25, 2025

Prioridade do governo, Câmara se agarra à aprovação do IR como ‘redenção’ moral

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Pauta positiva

O projeto de lei 1087/25, que aumenta a isenção do imposto de renda para quem recebe até R$ 5 mil é o único item da pauta de votação, hoje (1º), da Câmara dos Deputados e carrega em si grandes expectativas. Primeiro, porque é prioridade zero do governo federal e um ativo eleitoral poderoso. Segundo, porque pode ser a senha para a Câmara se “reerguer” depois do vexame da aprovação da PEC da Blindagem e da urgência na tramitação da anistia/dosimetria.

Alinhamento

Em reunião, ontem (30), no Planalto, entre os presidentes Lula, Hugo Motta (Câmara) e Davi Alcolumbre (Senado), o trio acertou para a votação desta matéria que, uma vez aprovada na Câmara, deve passar com êxito e sem demora no Senado. E tudo leva a crer que a matéria será superada neste ano para que as novas regras comecem a vigorar em 2026. O único ponto que pode gerar uma discussão maior é sobre as fontes de compensação.

Relatório

Arthur Lira (PP-AL), relator da matéria, manteve a isenção total para ganhos até R$ 5 mil e redução gradual para salários até R$ 7.350, mas deve ficar no plenário a discussão sobre o percentual de taxação dos super-ricos para compensar as perdas ao Tesouro sobre essa isenção. Para uma verdadeira justiça tributária, taxar as grandes fortunas seria a melhor forma de corrigir a desigualdade social que existe no Brasil.

Justiça tributária

Uma vez aprovada, a medida deve atingir diretamente cerca de 16 milhões de brasileiros, segundo a Receita Federal, que se encaixam nessa realidade. Realmente, seria um benefício e um fôlego no orçamento familiar tão maltratado. Resta saber se a proposta tem mesmo o consenso que os presidentes das casas afirmam e se a oposição vai votar favorável.

Travado

O PL da Dosimetria, que não tem texto e é apenas uma promessa, está estacionado por falta de acordo entre as bancadas. Nem o Partido Liberal nem o PT e partidos progressistas concordam com a redução de penas para os condenados do 8 de janeiro, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Paulinho da Força (Solidariedade-SP) está correndo da sala para a cozinha para fechar uma minuta plausível, mas por enquanto as conversas, reuniões e almoços não têm surtido efeito.

Retrocesso

Mesmo com veto parcial do presidente Lula, a Lei da Ficha Limpa foi alvo de grande ataque do Congresso Nacional ao modificar pontos de uma conquista popular feita para o fortalecimento da democracia. Com mudanças na Lei das Inelegibilidades e Lei das Eleições, a flexibilização do início do prazo que começa a contar a Lei da Ficha Limpa favorece o gestor e o político corrupto e alvo de processos.

Apreensão

Em nota, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral criticou as mudanças operadas na legislação e afirma que a nova roupagem da lei fragiliza a moralidade eleitoral, abrindo caminho para o retorno de políticos condenados às disputas eleitorais, inclusive sob o risco de grupos ligados ao crime organizado.

Financiamento

A Comissão Mista do Orçamento (CMO) do Congresso Nacional ainda não aprovou a LDO 2026, que está super atrasada e é a base para a Lei Orçamentária, que também está em tramitação nesta comissão, mas aprovou de forma simbólica, ontem (30), o aumento nos recursos do fundo eleitoral para 2026. O financiamento público de campanhas continua num patamar bilionário e abocanhará uma fatia generosa, R$ 4,9 bilhões, do Orçamento da União em 2026.

Adiado

O relatório do deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) à MP 1303/25, que trata de novas regras de tributação sobre aplicações financeiras e ativos virtuais deve ser votado amanhã (2) na comissão especial. A MP foi apresentada pelo governo em substituição à polêmica do IOF e está prestes a caducar. Ainda pontos de tensão no texto, como a taxação das letras de créditos do agronegócio.

Acordo

Outro ponto que também gerou grande reação foi o artigo 71, que mudava as regras para a concessão do seguro-defeso à pescadores. Após pressão de parlamentares que defendem o interesse desta categoria e reunião com o relator, Zarattini recuou e vai suprimir esse artigo da MP. Decano da Câmara, o deputado Átila Lins (PSD-AM) comemorou a decisão e o êxito do acordo. Ele acrescentou que os valores do seguro de 2026 estarão garantidos no Orçamento da União.

Valéria Costa
Valéria Costa
Jornalista, com 25 anos de profissão. Já atuou em veículos de comunicação em Manaus (AM) e Brasília (DF), na cobertura dos principais assuntos nas diversas editorias do jornalismo, com ênfase em política e opinião.

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