Com uma trajetória no Congresso Nacional, com cinco mandatos como deputado federal e um, como senador e, em segundo mandato como governador do Goiás, Ronaldo Ramos Caiado quer ir mais longe e se tornar presidente da República. Ele não esconde esse projeto político e foi o primeiro, entre os presidenciáveis a antecipar e formalizar uma pré-candidatura ao Palácio do Planalto.
Aos 75 anos de idade, o médico e professor colocou mais lenha na fogueira política e, mesmo sem o aval formal do seu partido, o União Brasil, ele tomou a dianteira do debate em torno da disputa presidencial. Agora, com a formalização da federação partidária União Progressista, com o Partido Progressista, Caiado – que antes era contrário a essa aliança – agora vê nessa força política um passaporte para alavancar sua pré-candidatura presidencial entre o eleitorado do resto do país.
Ele sabe que a tarefa não será fácil, pese a concorrência que tem na mesma corrente política da qual participa, mas garante que tudo que será decidido será em prol do país e de derrotar o atual presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), do qual é um dos opositores mais ferrenhos. O sonho dele, neste momento, é o União Brasil abandonar o governo Lula3.
Nesta semana, por ocasião do lançamento da Federação União Progressista, em Brasília, o governador e presidenciável concedeu rápida entrevista ao Viés Político.
Confira abaixo trechos da conversa:
VIÉS POLÍTICO: Qual a sua avaliação sobre essa nova corrente política: a União Progressista?
Ronaldo Caiado: A federação é, indiscutivelmente, a maior mudança que já se viu desde a Nova República até hoje, com a criação do União Progressista. A partir daí mudar o cenário político, o eixo da política do Brasil. Hoje, o maior partido da Câmara (dos Deputados), além de interferir nas votações. Eu, que fui parlamentar muito anos, sei que quando um líder do partido fala em nome de 109 deputados, dá um peso representativo da melhor maneira lá.
VIÉS POLÍTICO: Mas o senhor se posicionava dentro do União Brasil como um crítico dessa federação, não era a favor dessa aliança com o PP. Porque mudou de ideia?
RC: Não é que eu mudei de ideia, é que eu defendi que o partido precisava ter uma posição em favor de uma candidatura a presidente. Aliás, duas posições: uma, ter candidato a presidente e, segundo, se afastar do governo Lula. Uma parte já conseguimos, pelo menos o União Brasil já não indicou ninguém para o Ministério das Comunicações, é primeiro item. Segundo item: assume a pré-candidatura a presidente da República. Então, você vê que a luta e a minha argumentação também foi sentida e os outros presidentes acolheram essa proposta, porque montar partido para não ter presidente, brincadeira!
VIÉS POLÍTICO: A sua pré-candidatura a presidente então ganha aval e mais força dentro desse novo contexto político-partidário?
RC: Eu me coloquei como pré-candidato e isso dá a mim um caminho enorme pra percorrer, uma capilaridade que nenhum outro tem. Ninguém chega em todos os estados, como eu chego com vereador, prefeito, deputado federal, senador, governador. É algo que mostra a organização do partido e a capacidade de se impulsionar uma mensagem e aquilo que será o programa do partido.
VIÉS POLÍTICO: Mas nessa corrente de centro-direita, o senhor não é o único presidenciável. O PP, por exemplo, apoia a corrente bolsonarista e está muito ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Como será a construção dessa candidatura presidencial?
RC: Não tem problema. Nós sabemos conviver tranquilamente. Isso não será problema de maneira alguma. Você me vê junto com o (Romeu) Zema; junto com o Ratinho (Jr.); junto com Tarcísio (de Freitas). Política é diferente. Em política, você tem que saber caminhar por diálogo e não é por imposição. Se não fica igual aqueles menininhos de barra de saia: “ah eu sou dono da bola, ninguém joga”. Não, nós somos maduros, civilizados. A política se transforma com o diálogo e também na percepção que o eleitor vai ver do candidato. Ora, a pessoa só é candidato se ele realmente tiver a capacidade de mobilizar o eleitorado, não é porque ele é protegido de A ou B. Ele tem que ter discurso capaz de poder mobilizar a população pra votar nele. Do contrário do quê que adianta? Todos nós estamos no vestibular e temos um ano e meio para andar. Como eu já conheço bem a política, ao invés de eu deixar para o ano que vem, eu já comecei esse ano.
VIÉS POLÍTICO: O senhor defende que a União Progressista tenha candidatura presidencial e que deixe os cargos no governo Lula. Com essa superaliança, sair da Esplanada dos Ministérios é questão de tempo?
RC: Esse é o maior sonho meu. É o maior sonho meu. Na hora que o Pedro Lucas (deputado federal, líder do União Brasil na Câmara) disse não, eu estava em Goiás e eu aplaudi de pé: “esse rapaz aí me representa”. Acho que já está passando de tempo de, tanto o União quanto o PP, de todos dois deixarem seus cargos no governo. O governo não têm nada a ver com a nossa política, com os nossos eleitores, não tem a menor identidade conosco. Veja, se você buscar aqui no debate do período da cassação da Dilma (Rousseff), eu era senador da República e já denunciava o PT de, naquela época, estar assaltando aposentados. Eu demonstrei isso: assaltantes de aposentados. Agora, se repete a mesma coisa. Então, qual é a credibilidade que tem um governo desse? com uma taxa de juros desse jeito? Cesta básica, o cidadão não está mais conseguindo comprar; uma desordem institucional danada; os faccionados tomando conta do Brasil e dos estados e vem com a farsa aí de uma PEC (Segurança Pública) que não tem a menor capacidade de combater crime. Pelo contrário, isso é um grande presente de imediato para os faccionados.
VIÉS POLÍTICO: E qual é sua crítica em relação à PEC da Segurança Pública?
RC: Ela quer mudar a Constituição de 1988. A Constituição dá aos governadores o poder de fazer o combate e organizar as forças policiais. Ele (o governo) quer tutelar daqui de Brasília o que cada governador tem que fazer. Se não dá conta de fazer a tarefa de casa dele, como é que quer dar ordem para alguém se não consegue combater os crimes que são federais, que somos nós que estamos combatendo? Como é que ele quer comandar as ações dos estados? Não acredito que essa PEC seja aprovada no Congresso Nacional. Não acredito de jeito nenhum. Não tem o menor clima de passar uma coisa dessas.
VIÉS POLÍTICO: Mas falando da União Progressista, essa super federação vai demarcar território nas eleições de 2026?
RC: O grande fator que vai aproximar as candidaturas é a força que esse partido vai representar com a sinalização de vitórias. É um partido que se preocupou em não ir desorganizado para 2026, ou seja, os partidos se organizaram e criaram a União Progressista. Então nós vamos para um processo eleitoral, mas vamos com a estrutura montada. Nós estamos entrando numa corrida, mas com os atletas bem preparados. Não tem ninguém ali: “eu vou pegar você pra entrar no jogo, hoje”. Então, a União Progressista está fazendo a tarefa de casa, e essa tarefa de casa vai repercutir nos próximos meses. Nós vamos estar andando o Brasil, as candidaturas vão emergir, mais candidatos virão para o União Progressista. Isso tudo vai criar um clima no Brasil que refletirá em 2026.
VIÉS POLÍTICO: Há um movimento que defende o semipresidencialismo no país como alternativa política mais saudável. O senhor é a favor do sistema presidencialista. Esse debate vai prosperar?
RC: Por que está assim? Porque não tem presidente. Não é porque deteriorou-se o quadro institucional do país que o presidencialismo tem a culpa, não. O que tem a culpa é a incompetência do presidente. A incompetência de um governador, a incompetência de um prefeito. Mas, aqueles que exercem com competência, dentro da prerrogativa do presidencialismo, ele governa bem seu estado, seu município e a presidência da República, isso não é dificuldade. A dificuldade é que você não pode penalizar, certo, aí você está penalizando o sistema político brasileiro e resguardando a incompetência do presidente. Não é que a cirurgia seja ruim é que o médico é incompetente. É diferente. A técnica cirúrgica é maravilhosa, mas o médico é incompetente e matou o paciente. Está se trocando o principal pelo acessório. O principal dessa deterioração da política brasileira é a incompetência do presidente. Um presidente que nunca quis governar, que não teve interesse, que ficava passeando pela Europa e o mundo todo, não tava nem aí para a situação fiscal do pais, endividando o pais cada vez mais. A comida tá cara. Quem procovou a comida cara? Ele, que passou a ser o maior tomador de dinheiro do mercado. Não é o sistema que é ruim, é que o cara que está lá é péssimo. Essa que é a real. Não dá!