terça-feira, junho 3, 2025

Senhor senador, eu lhe respeito como homem, mas não como parlamentar. Pode Arnaldo?!

Compartilhe

Saco de pancada

A presença da ministra do Meio Ambiente e das Mudanças Climáticas, Marina Silva, no Congresso Nacional se tornou um palco de manifestações horrorosas, machistas, desrespeitosas e um atentado ao direito que todo ser humano carrega. Cada vez que a ministra é convidada por uma comissão, seja na Câmara, seja no Senado, os presentes preparam um espetáculo para o mundo ver. Ontem (27), na Comissão de Infraestrutura do Senado, não foi diferente do que já se viu em audiências anteriores.

Basta!

Mas os acontecimentos de ontem deixaram a quem viu, presencialmente ou virtualmente, estarrecidos pela brutalidade carregadas nas palavras mansas de quem as proferiu. Ali não estava apenas uma autoridade, estava uma mulher, que carrega toda uma história de superação e de lutas em seu caminhar. Mas, poderia ser qualquer mulher que estivesse, o respeito é obrigatório. A casa do povo, como é conhecido o Parlamento, tem se mostrado cada vez mais egoísta e preocupado apenas com seus interesses.

Arrogância

Ao escutar do seu interlocutor, o senador Plínio Valério (PSDB-AM), de que ele iria separar a ministra da mulher, Marina não poderia ter outra atitude a não ser se levantar e se retirar daquele palco armado para uma exposição cínica. Num colegiado onde a maioria era de figuras masculinas em que, pelo menos três desses representantes engrossaram a voz para a ministra, desrespeitando-a em seu direito e fala, não poderia ter acabado bem. O pedido de desculpa, se viesse, já seria tardio pese o desejo anterior externado por Plínio de “enforcar” Marina, mesmo que fosse uma fala num momento, segundo ele, de descontração.

Pobre Congresso

Ao defender Marina, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) afirmou que era um desrespeito inaceitável e que não cabia num debate institucional. É verdade senador, mas, infelizmente, nos últimos tempos, Câmara e Senado têm se prestado a cenas lamentáveis, deixando para segundo plano discussões e debates de assuntos que poderão ter impacto na vida da população em detrimento de defender causas próprias.

BR-319, a pivô

O grande pivô do conflito que alterou os ânimos dos presentes foi a rodovia federal BR-319 (Manaus-Porto Velho), que se tornou uma bandeira forte nos discursos políticos das bancadas do Amazonas e Rondônia. Estes parlamentarem creditam o atraso das obras da estrada à ministra Marina Silva. O discurso já é até decorado. Ao se defender, a ministra afirmou que esse debate virou um bode expiatório e, que se chama Marina Silva. Frisou que ela saiu do governo em 2008 e só retornou em 2023, portanto um lapso de 15 anos. O confronto estava posto entre ela e o senador Omar Aziz (PSD-AM). Mas, chama a atenção, que na semana anterior esteve nesta mesma comissão o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB-AL), para falar das obras rodoviárias no país e nenhum confronto, voz alterada ou falta de respeito se reverberou…

Sem convocação

Líder da bancada feminina no Senado, Leila Barros (PDT-DF) afirmou que o grupo não vai aceitar uma nova convocação de Marina Silva pela Comissão de Infraestrutura, como afirmou o presidente do colegiado, Marcos Rogério (PL-RO) após a saída da ministra. “Convocação não vai ter, não. Nós vamos fazer um auê aqui dentro e não vai ter convocação. Teve gente que fez papel pior aqui e ninguém pediu convocação. Não vai ter convocação da Marina porque nós vamos fazer uma mobilização nacional se tiver uma convocação, aqui, de qualquer mulher que foi tratada como ela foi tratada hoje. Não vai ter, não vai ter porque nós não vamos deixar.”

Suspeição

Após notícias na imprensa de que o senador Ciro Nogueira (PP-PI), que é membro da CPI das Bets, ter viajado para a Europa em jatinho particular de empresário investigado por esta comissão parlamentar, a relatora, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), enviou ofício à presidência da CPI pedindo a exclusão de Nogueira da comissão. Procurado pela Coluna, o senador disse que não iria comentar e que a senadora, segundo ele, acusada de auxiliar lobista para extorquir investigado, não tem credibilidade.

Foco de tensão

O aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), proposto na semana passada pelo governo federal para não fechar o caixa no vermelho no final do ano virou o novo ponto de conflito entre governistas e oposição. E também um abacaxi para o Planalto administrar. Entidades e lideranças do setor produtivo já se manifestaram contrárias à medida pois vai encarecer mais ainda investimentos privados. Na Câmara e no Senado, 20 projetos de decretos legislativo já foram apresentados para sustar a medida. O governo tenta reverter o dano político, mas tá difícil.

Reação

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), se manifestou contrário à medida em suas redes sociais afirmando que o país não precisa de mais impostos. A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado já ensaia convidar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para explicar sobre esse aumento do IOF. Para o economista Newton Marques, o governo planeja esse aumento como arrecadatório na política fiscal do ponto de vista compensatório. Mas, acabou entrando na seara da política cambial, que é competência do Banco Central sem a devida discussão. “Aí azedou. Poderia ter sido feito por meio de projeto de lei, e não por decreto.”

Valéria Costa
Valéria Costa
Jornalista, com 25 anos de profissão. Já atuou em veículos de comunicação em Manaus (AM) e Brasília (DF), na cobertura dos principais assuntos nas diversas editorias do jornalismo, com ênfase em política e opinião.

Leia mais

Mais do assunto