sábado, abril 19, 2025

Taxa Selic, a pedra no sapato do Governo Lula

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Aumento dos juros

Já é consenso entre investidores e empresários de que o Banco Central vai elevar, nesta quarta-feira (19), a taxa básica de juros em mais 1 ponto percentual, subindo dos atuais 13,25% para 14,25%. Essa será a segunda reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deste ano sob o comando do novo presidente, Gabriel Galípolo, ex-número 2 da Fazenda (Haddad). Se o aumento for confirmado, analistas reforçam que será o maior patamar da Selic em quase 9 anos, desde o governo de Dilma Rousseff.

Água fria

O provável aumento acontece um dia depois de o presidente Lula e toda a sua equipe econômica formalizar a entrega ao Congresso Nacional do projeto de lei que amplia a faixa de isenção do imposto de renda pessoa física, dos atuais R$ 2.824 para R$ 5 mil. A proposta vai começar a tramitar no Legislativo federal e, uma vez aprovado, começa a vigorar em 2026. O presidente defende a matéria como “justiça social”. O Banco Central afirma que o aumento da taxa de juros é necessária para conter a inflação.

Dor de cabeça

O fato é que as medidas econômicas adotadas pelo Lula3 ainda não acertaram os ponteiros neste primeiro trimestre de 2025 e isso tem causado estragos em sua popularidade, na percepção de seu governo e na forma como está conduzindo questões delicadas e sensíveis à população, como o preço dos alimentos, dos combustíveis, do custo de vida. Pesquisa do PoderData, divulgada hoje (19), mostra que a desaprovação do presidente aumentou para 53% entre os entrevistados, percentual bem amargo para a cúpula do governo digerir logo cedo, no café da manhã.

Esperança

Embora o cenário seja preocupante para o Planalto, quando faltam pouco mais de um ano para as eleições presidenciais, Lula e aliados apostam na retomada da economia com as medidas econômicas adotadas. A grande esperança, agora, é aprovar o PL do Imposto de Renda. Os aliados no Congresso se mostraram positivos, mas já deram o recado ao presidente que a proposta original deve sofrer alterações. A oposição ensaia voto contrário. Essa matéria será a nova moeda de troca entre Executivo e Legislativo.

Análise

Para o economista e membro do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), Newton Marques, o governo Lula aposta muito no consumo para alavancar o crescimento econômico do país, mas esbarra na elevada taxa de juros brasileira. Ele quer cumprir uma das promessas de campanha, que é isentar do pagamento do IR trabalhadores que ganham até R$ 5 mil. Mas, a pergunta que não quer calar? de onde vai vir a fonte de recursos pra bancar essa isenção fiscal? O governo já adiantou que pode sair dos dividendos das ações ou aumentar o imposto para aqueles que ganham acima de R$ 50 mil. “A briga vai ser grande no Congresso. Se for aprovado, o Lula ou o seu candidato, sai forte pra campanha de 2026”, afirma o especialista.

Parece que vai

Depois de ter repercutido mal a decisão do Congresso Nacional em adiar a votação da Lei Orçamentária Anual (LOA) 2025 para abril, os líderes decidiram que é melhor não pagar pra ver. Recuaram e já alinharam que o relatório do senador Ângelo Coronel (PSD-BA) deve ser lido e votado na Comissão Mista do Orçamento (CMO) amanhã (20) e, previsão de ser votado na reunião conjunta do Congresso Nacional, na sexta (21). A informação foi confirmada por Coronel à Coluna. “É o que prevemos”, disse. Mas, reforçou, o atraso na votação se deve a um pedido do próprio governo que precisou fazer ajustes na peça orçamentária.

Exílio?!

O anúncio do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-RJ) de que vai se licenciar por quatro meses do mandato e ficar uma temporada nos Estados Unidos movimentou o cenário político, ontem, no país. A decisão surpreendeu até mesmo seus aliados. Mas, há quem afirme que não passa de jogo de cena e uma estratégia do grupo político do ex-presidente Jair Bolsonaro para que, uma vez em solo americano, o parlamentar possa articular uma reação ao que chama de “perseguição à direita no Brasil”. O deputado chegou a afirmar, em entrevista à CNN Brasil, de que vai solicitar exílio político ao governo de Donald Trump.

Presentes de luxo

Em fevereiro, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Jorge Oliveira, relator do caso das joias recebidas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro na Arábia Saudita, decidiu que presentes de uso pessoal, recebidos por presidentes e vice-presidentes, não são patrimônio público e podem continuar com os mesmos ao saírem do cargo. Com isso, tanto as joias que Bolsonaro ganhou quanto um relógio de luxo que o presidente Lula ganhou em 2005, do então presidente francês, Jacques Chirac, bem como outros adereços, não são patrimônio público. Mas o TCU sugeriu ao Palácio do Planalto que aprimore as regras sobre a gestão de bens recebidos como presentes de entes externos. Após essa decisão, Bolsonaro foi às redes sociais comemorar o fato.

Coligação política

A possível federação partidária entre o União Brasil e o Partido Progressistas (PP), visando as eleições de 2026, ainda não saiu do papel. Bancadas de ambos os partidos se reuniram ontem para tratar do assunto, mas a aliança política ainda não é consenso internamente. O União Brasil, que tem em sua gênese o dogma político do extinto PFL, teme perder protagonismo e força uma vez coligado com o PP por um prazo fixo de 4 anos. Mas, em política, os fins justificam os meios dizem as más línguas. A discussão continua.

Inacreditável

Uma declaração, no mínimo polêmica, misógina e carregada de falta de respeito ao ser humano, feita pelo senador Plínio Valério (PSDB-AM) nos últimos dias veio à tona ontem e repercutiu negativamente em todos os canais de informação. Num evento com empresários do comércio do Amazonas, ao contar um fato referente à CPI das ONGs, presidida por ele no Senado, falou – como se estivesse contando vantagem numa mesa de bar com amigos – que teve que aguentar a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, falando por 6 horas na comissão por ocasião de sua convocação. “Imagina o que é escutar Marina 6 horas e dez minutos sem enforcá-la”. Um pedido de desculpas não seria suficiente.

Valéria Costa
Valéria Costa
Jornalista, com 25 anos de profissão. Já atuou em veículos de comunicação em Manaus (AM) e Brasília (DF), na cobertura dos principais assuntos nas diversas editorias do jornalismo, com ênfase em política e opinião.

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